domingo, 21 de setembro de 2008

Não gosto de ir à Missa


Oi meu nome é Lauriana, tenho 14 anos e não entendo muito a missa, por isso não gosto de ter que ir. Acho que há milhões de adolescentes e jovens como eu, que vão à missa contra a vontade. Você não acha que é melhor não ir do que ir contra a vontade? Por favor, seja franco, mas não me ignore. Me responda logo, tá?
A carta de Lauriana veio clara e franca, sobre um tema que já trouxe e trará, por muito tempo ainda, um velho conflito familiar. Os pais desejam que os filhos os sigam na sua convicção religiosa. Os filhos não entendem ou não aceitam determinados ritos, porque o mundo adolescente em que vivem, tem uma linguagem e muitas vezes a Igreja tem outra. Eis o teor da carta que respondi a Lauriana e que, com sua permissão, é reproduzida na íntegra.

Lauriana,

Grato por sua carta. Em geral, não tenho muito tempo para respostas pessoais, mas sua carta representa um problema de milhares de adolescentes. Assim, respondo a você, mas peço licença para, depois, publicar em revista, para que outros possam refletir conosco. De acordo? Vou responder em poucas palavras, mas com a maior clareza que puder:
a) Você não gosta de ir à missa;
b) Você diz que não a entende;
c) Você não acha válido ir contra a vontade;
d) Não sei se minha carta ajudará você a gostar de missa;
e) Tentarei explicar o porquê de celebrar o pão;
f) Você tem razão e seus pais também a têm. É questão de perspectiva.
Agora, vamos ao assunto GOSTAR DE MISSA. Milhões de adolescentes (você mesma diz) não gostam de ir à igreja. Mas milhões de adolescentes também não gostam de ir à escola todos os dias, de freqüentar o colégio que freqüentam, de morar onde moram, de ter que trabalhar, de ter que comer verdura às refeições. Como os pais não são tolos e ouvem, lêem, ou já passaram por isso, pedem, explicam e se não são atendidos, exigem dos filhos adolescentes que os obedeçam, porque, em longo prazo, entenderão a importância de estudar, ir a tal ou qual colégio, ficar naquela cidade, trabalhar ou alimentar-se desta ou daquela maneira. Adolescentes como você, são, em geral, gente esperta e terrivelmente inteligente, mas ao contrário do que se diz por aí, vocês nem sempre pensam no futuro. O imediatismo de só fazer agora o que agora interessa, fecha um pouco a cabecinha de vocês. E, na briga com os pais, vocês se comportam como o motorista que insiste em fazer suas próprias leis de trânsito. Um dia, um guarda o multa e ensina que dirigir bem não é dirigir como a gente gosta, mas de um modo que seja bom para a maioria que está na estrada. Você pode não gostar da CELEBRAÇÃO DO PÃO E DO VINHO, mas a igreja à qual seus pais pertencem, tem suas razões para isso. Talvez ninguém explicou à você a importância de aprender a partilhar o pão e a palavra com a comunidade. Talvez ninguém explicou o significado de Jesus na história do homem. E pode ser que, na sua paróquia, falte algum casal e algum padre que saibam conversar claro com gente nova como você. Não é muito fácil ensinar religião aos adolescentes de hoje. A gente, em geral, gosta do que conhece e entende e rejeita o que não entende.

ENTREMOS NO ASSUNTO EUCARISTIA...

Eu não sei o que os adolescentes do início do cristianismo pensavam, mas sei que hoje, muitos não compreendem o porquê daquela mesa com toalhas brancas e tudo aquilo que o padre e o povo fazem, às vezes maquinalmente, quase que num teatro coletivo. O fato é que ir à missa, para muita gente, é ir à um teatro que repete sempre as mesmas palavras, muda muito pouco o tema e acaba num ritual, que a gente faz porque "tem que fazer". Seu problema talvez seja esse, Lauriana. Você tem assistido a um teatro, onde o papel do padre e dos outros não a emociona e o seu papel não a entusiasma. De que adianta ler aquele folheto, repetir aquelas palavras; senta, levanta; levanta, senta, escuta o padre que nem sempre diz coisa interessante, entra na fila, comunga, canta um pouco e volta para casa? Ninguém decoraria algumas palavras e gestos só por decorar. Se vamos representar alguma coisa, o importante é que desejemos receber ou passar alguma mensagem. E, para você, nem lhe passam, nem você sente que passa mensagem alguma, senão a de obedecer a seus pais que, aliás, são pessoas espetaculares em tudo. Não é o que você diz? Pois bem, Lauriana, imagine então um ritual que celebra O PÃO E AS PESSOAS QUE O REPARTEM! Pois isso é a MISSA.

JESUS E A MÍSTICA DO PÃO DO CÉU.

Lauriana, eu não sei o que você pensa de Jesus, mas, se acredita no homem maravilhoso que Ele foi e no que representa para a humanidade, então entenderá mais fácil porque os apóstolos que conviveram com Ele, começaram a celebrar o PÃO DO CÉU. Siga meu raciocínio: a vida de Jesus foi praticamente vivida em torno da justiça para todos, da caridade e da partilha. Ele mesmo se deu à humanidade e sua vida foi enriquecida constantemente pela idéia do pão repartido. Vou citar alguns fatos e você raciocinará comigo porque "partilhar o pão" e a palavra é "imitar" Jesus: a) Jesus nasceu em Belém (Bêt-lehem, quer dizer Casa do Pão);
b) Jesus se proclama Pão Vivo descido do Céu;
c) Com dó da multidão, multiplicou o pão e alimentou-a;
d) Disse que daria ao mundo um pão que era Ele mesmo;
e) Na última refeição, partiu o pão e pediu que seus discípulos repetissem aquele gesto em Sua memória. Fez o mesmo com o cálice de vinho que repartira;
f) Muitas vezes falou da justiça de repartir o que temos;
g) Seu jeito de repartir o pão era tão especial, que os dois de Emaús só perceberam que era Ele, por causa do gesto de repartir o pão;
h) Jesus gostava de estar reunido com seus amigos e com o povo e ali falava e ensinava. Pois, foi em torno de uma mesa que Jesus fez a última refeição! Foi seu jantar de despedida. E, naquele dia, resumiu praticamente todo o seu ensinamento sobre o amor aos outros. Fez um gesto e pediu à quem acreditasse Nele, que repetisse aquele gesto. E foi claro: PEGUEM E COMAM, PEGUEM E BEBAM. É MEU CORPO. É MEU SANGUE, É MINHA VIDA QUE VOU DAR PARA QUE A HUMANIDADE APRENDA O QUE É AMAR! QUANDO JANTAREM JUNTOS, FAÇAM ISSO PENSANDO EM MIM. EU, QUE SOU O LÍDER, LAVEI OS PÉS DE VOCÊS. APRENDAM A SERVIR E REPARTIR E SABERÃO PORQUE EU VIM AO MUNDO..
. Pois bem, Lauriana, foi mais ou menos isso que Jesus disse naquele jantar meio triste, mas cheio de ternura e amizade. Os discípulos nunca mais esqueceram aquilo. E, quando se reuniam para repartir o pão, pensavam em Jesus.

A MISSA É O PROLONGAMNETO DAQUELE DIA.

Nós, os discípulos de hoje, nos reunimos ao menos uma vez por semana - no dia do Senhor (Domingo vem de Dominus = Senhor) e CELEBRAMOS a experiência gostosa de bater um papo sobre Deus, sobre a vida, sobre Jesus e de aprender a repartir nossos bens, nossa comida e nossas idéias. Lá fora, é onde temos que mostrar quem somos e porque seguimos Jesus. Eu só lamento que a gente seja tão limitado para explicar às crianças e adolescentes uma coisa tão bonita como um jantar entre amigos, onde Jesus é lembrado como a razão de tudo.
Seus pais provavelmente entendem que celebrar com os outros na tristeza, na alegria, na esperança enriquece a vida deles. Só não conseguiram ainda provar à você que isto é bom também para você. E é provável que eles também tenham lá suas pequenas dúvidas, mas vão, porque entenderam o essencial: na missa, Deus se faz nosso alimento espiritual. E lá, a gente aprende a seguir Jesus. Aqui e acolá, aparece um padre com maior dom de comunicação que torna a missa um encontro gostoso e super interessante. Às vezes, o padre é limitado e não chega até seu coração, Lauriana. Mas, o importante é que você saiba que foi lá celebrar a partilha da PALAVRA, do PÃO, de VOCÊ MESMA COM DEUS E COM TODA A COMUNIDADE. Se souber disso, vai até perdoar a falta de comunicação do padre ou da equipe de animação da missa.
Era isso, Lauriana. Acho que não disse coisa com coisa, mas tentei dizer à você que eu acredito sinceramente em Jesus e que, quando vou à missa, é para CELEBRAR. E celebro, faço festa, janto espiritualmente com Jesus e com toda a humanidade que crê. É meu jeito de entender que, o que tenho, é apenas relativamente meu; se eu não puder nem quiser me colocar a serviço dos outros, então me prejudica. Eu gosto da missa, porque a missa me educa para Deus e para o povo e me faz entender o gesto de Jesus, que amou tanto a humanidade que até se ofereceu como se fosse um pão que entra em nós e se transforma em energia de vida. É isso o que Ele quer ser: aceita ser eu para que eu aceite ser um pouco Ele. E o gesto é a Missa. Para mim não é teatro. É um ATO REAL. Eu vou lá porque quero repartir minhas idéias e o que sou e tenho. O ideal seria que todos pudessem falar, mas nem sempre é possível. Então, a gente segue um ritual. Mas há momentos fortes, em que todos deveriam sentir que estão passando uma mensagem.
Experimente fazer isso e talvez até goste de ir à missa. Não vai ser fácil, eu sei, mas é por aí que sugiro que você comece.
De resto, um abraço amigo de padre e cristão. Dê um beijão nos seus pais e mostre minha carta à eles. Acho que discutirão isso com você e talvez os três cheguem a uma conclusão mais aberta, sem conflito deles, nem seu. E, enquanto isso não acontece, vá partilhando sua vida e seu pão de cada dia com os que você ama.
Fui claro?! Então, reze por mim.

Autor: Pe. Zezinho, scj

Fonte: http://www.radiorainhadapaz.com.br/noticia2003/131120022.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário