quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Santa Teresinha do Menino Jesus



"Não quero ser Santa pela metade, escolho tudo".

Francesinha, que nasceu em Aliçon 1873, e morreu no ano de 1897. Santa Terezinha não só descobriu no coração da Igreja que sua vocação era o amor, mas sabia que o seu coração - e o de todos nós - foi feito para amar. Terezinha entrou com 15 anos no Mosteiro das Carmelitas, com a autorização do Papa e sua vida passou na humildade, simplicidade e confiança plena em Deus.

Todos os gestos e sacrifícios, do menor ao maior, oferecia a Deus, pela salvação das almas, e na intenção da Igreja. Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face esteve como criança para o pai, livre igual a um brinquedo aos cuidados do Menino Jesus, e tomada pelo Espírito de amor, que a ensinou a pequena via da infância espiritual. 

O mais profundo desejo do coração de Terezinha era ter sido missionária "desde a criação do mundo, até a consumação dos séculos". Sua vida nos deixou como proposta, selada na autobiografia "História de uma alma", e como intercessora dos missionários sacerdotes e pecadores que não conheciam Jesus, continua ainda hoje, vivendo o Céu, fazendo o bem aos da terra. 

Proclamada principal padroeira das missões em 1927, padroeira secundária da França em 1944, e Doutora da Igreja, que nos ensina o caminho da santidade pela humildade em 1997, na data do seu centenário. ela mesma testemunha que a primeira palavra que leu sozinha foi: " céus "; agora a última sua entrada nesta morada, pois exclamou : " meu Deus, eu vos amo...eu vos amo ".

Fonte:
CANÇÃO NOVA

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Rapidinhas do mês de Outubro

Outubro é o mês das Missões:

Iniciamos hoje o mês de outubro. Muitas são as coisas bonitas que celebramos neste mês. A começar que para a Igreja Católica no Brasil é o mês missionário, onde todas as atividades pastorais convergem à reflexão sobre o compromisso de ser Igreja Missionária, para expandir o Reino de Deus a todos os povos. A Igreja já nasceu missionária, e a missão é parte essencial da sua existência e com ela todos os batizados somos obrigados a cumprir o mandato de Jesus, conforme Mateus 28, 19-20: "Ide pelo mundo inteiro e fazei discípulos meus a todas as pessoas batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinai-as ha cumprir tudo o que eu vos ordenei."

Semana da Vida:

Inicia hoje também e extende-se até o dia 07 (terça), a Semana da Vida que é  uma ocasião especial para colocar em evidência o valor e a beleza desse Dom precioso que recebemos de Deus. De modo especial, salientamos o valor sagrado da vida humana em todas as suas dimensões. A Igreja Católica defende a vida humana desde o momento da sua concepção até o último instante da existência natural do ser humano quando Deus nos recebe na eternidade. Temas como o aborto, a pena de morte, a eutanásia e a violência de gênero (violência familiar)  são severamente combatidas pela Igreja Católica, porque somente o Deus pode tirar a vida humana já que Ele é quem cria e por tanto é Ele o proprietário da nossa vida e por isso não temos o direito de tirar a vida de ninguém. A semana da vida é Promovida pela CNBB e organizada pela Pastoral Familiar.

12 de Outubro

É o dia das crianças e também a Solenidade da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida.

Círio de Nazaré

Ainda no dia 12 , segundo domingo do mês de outubro, em Belém do Pará. Acontece a maior manifestação religiosa do Brasil e talvez do mundo. É a procissão do Círio de Nazaré, com cerca de 2.000.000 (dois milhões) de fiéis, em homenagem a Padroeira da Amazônia e da família paraense, Nossa Senhora de Nazaré. Uma grande festa que culmina sempre no segundo domingo de outubro. Na realidade a festividade de Nossa Senhora de Nazaré é umconjunto de eventos. Inicia na segunda quinzena de setembro com as pequenas peregrinações das nas casas das familias paraenses, com a imagem da padroeira e a reza do terço e da novena em prepraração ao dia do Círio, que é o dia dedicado a N. Sra. de Nazaré. Essa preparação encerra nas vésperas do Círio, com o descenso da Imagem que da Mãe de Deus, do Glória, no alto do altar mor da Basílica de Nazaré que, após o Círio, fica exposta à veneração dos fiéis até o final da festa.  E na manhã do sábado que antecede o Círio são realizadas três romarias: rodoviária,  fluvial e a motoromaria . A Imagem sa Santa é conduzida em carro aberto para o municipio de Marituba, na região metropolitana de Belém e de lá segue para o Distrito de Icoaraci, onde inicia a procisão fluvial pela Bahía do Guajará dando a volta por Belém até chegar no trapiche da estação das Docas, onde começa outra procissão, agora a motoromaria que vai até a Basílica de Nazaré. Ainda no sábado já iniciando a noite acontece a Trasladação da Imagem da Virgem de Nazaré que sai do Colégio Gentil Bittencourt, atrás da Basílica de Nazaré e se dirige em procissão, noturna com os círios acesos cerca de 1.000.000 de fiéis peregrinando até a Catedral da Sé de Belém, na parte mais antiga da cidade. De onde no dia seguinte, domingo pela manhã cedo após a Missa inicia a Procissão do Círo que retorna a Basílica de Nazaré.
Após a procissão, neste mesmo dia, as familias se reúnem para o tradicional banquete em suas casas, com todo tipo de comidas típicas da região, para celebrar o que é para nós os paraenses a nossa segunda Festa de Páscoa.  Por fim durante quatro semanas segue o arraial com muita atividade religiosa e cultural todos os dias a partir das 5h da manhã com o terço da alvorada e uma mini romaria na Basílica de Nazaré.  


terça-feira, 30 de setembro de 2008

A Parábola dos Poços


Era o país dos poços. Qualquer visitante estranho que chegasse aquele país, só enxergava poços: grandes, pequenos, feios, bonitos, ricos, pobres... À volta dos poços, pouca vegetação. A terra estava seca!
Os poços falavam de si, mas à distância ; sempre havia um pedaço de terra entre um e outro. Na realidade quem falava era a boca do poço...a conversa acontecia na superfície da terra. E dava a impressão que ao falar ressoava um eco, porque na verdade a fala provinha de lugares ocos. Como a boca dos poços estava oca, os poços davam a sensação de vazio, de angústia...e cada um procurava encher esse vazio como podia: com coisas, ruídos, sensações raras, livros, sabedorias... Havia poços com a boca tão larga que permitia colocar nela muitas coisas. As coisas, com o tempo, passavam de moda: então, com as mudanças chegavam continuamente coisas novas aos poços, coisas diferentes... e quem possuía muitas coisas era o mais respeitado, admirado... mas, no fundo, o poço nunca estava contente com o que possuía. A boca estava sempre ressequida e sedenta.
Bem...no fundo...a maioria dos poços, pelas frechas deixadas por entre as coisas acumuladas na boca, deixavam perceber algo misterioso... os seus dedos roçavam, uma vez por outra, a água no fundo do poço. Diante desta sensação tão rara, uns sentiam medo e procuravam não voltar a senti-la. Outros, encontravam tantas dificuldades por causa das coisas que abarrotavam das suas bocas, que se punham a rir e logo esqueciam aquilo que se "encontrava no fundo"... Falava-se também na superfície da terra, daquelas experiências profundas que muitos sentiam...mas havia quem risse bastante e dissesse que tudo era ilusão...
Até que houve alguém que começou a olhar mais para o fundo do poço e, entusiasmado com aquela sensação que experimentou no seu interior, procurou ficar quieto... mas, como as coisas que abarrotavam da sua boca incomodavam procurou libertar-se delas. E, aos poucos, os ruídos silenciaram, até chegar o silêncio completo. Então, fazendo-se silêncio na boca do poço, pôde escutar-se o barulho da água lá no fundo...e sentiu uma paz profunda, uma paz que vinha do fundo do poço. Então o poço experimentou que esta justamente a razão de ser. No fundo, ele sentia-se ele mesmo. Até então acreditava que a sua razão de ser era ter uma boca larga, rica e embelezada, bem cheia de coisas...
E assim enquanto os outros poços tratavam de alargar a sua boca, para que nela coubessem mais coisas, este poço, olhando para o seu interior, descobriu que aquilo que ele tinha de melhor estava bem no fundo e que, quanto mais profundidade tivesse mais poço seria. Feliz com a sua descoberta, procurou tirar água do seu interior, e a água, ao sair, refrescava a terra e tornava-a fértil e logo as flores brotavam ao seu redor...
A notícia espalhou-se rapidamente...As reacções foram diversas: uns mostravam-se cépticos, outros sentiam saudade de algo que, no fundo, percebiam também... outros ainda desprezavam "aquele lirismo" e outros acharam perda de tempo tirar água do seu interior. A maioria optou por não fazer caso, pois na verdade estava muito ocupada em trocar as coisas na entrada da boca do poço... muitos estavam satisfeitos com as sensações experimentadas fora.
Sem dúvida alguns tentaram fazer a experiência de se libertar das coisas que enchiam a boca... e encontravam água no seu interior. A partir de então, as surpresas destes foram aumentando. Comprovaram que, por mais água que tirassem do interior do poço, este não esvaziava. A seguir, aprofundando mais para o interior, descobriram que todos os poços estavam unidos por aquilo que lhes dava razão de ser: a água. Assim começou uma comunicação profunda entre eles, porque as paredes dos poços deixaram de ser barreiras entre eles.
Comunicaram-se em profundidade, sem se preocuparem com a abertura da boca. A descoberta mais sensacional veio depois, quando os poços já viviam em profundidade: chegaram à conclusão que a água que lhes dava vida não nascia lá mesmo, em cada poço, mas vinha, para todos, procedente de um mesmo lugar...e procuraram seguir a corrente da água.
E descobriram o manancial! O manancial estava bem longe: na montanha do país dos poços...e ninguém sabia da sua presença. Mas estava lá! A montanha sempre esteve lá. Umas vezes apenas visível entre as nuvens, outras, mais radiante... e nunca perceberam a montanha. Desde então os poços que haviam descoberto a razão do seu ser, esforçaram-se por aumentar o seu interior e aumentar a sua profundidade, para que o manancial pudesse chegar mais facilmente até eles. E a água que tiravam de si mesmos, tornou fértil a terra ao seu redor.
Enquanto isso, lá fora, na superfície, a maioria dos poços continua aumentando as suas bocas, procurando ter sempre mais coisas.

Pistas para reflexão:

Deus, que colocou em mim a inquietação, a sede, a busca...se oferece a mim e se deixa encontrar!
- Como está a boca do meu poço? Como está o interior? O manancial, encontra espaço para "fluir"?
- A minha conversa com os outros poços...acontece ao nível da boca, ou vem da profundidade?
- Estou vivendo na "boca" ou "na profundidade" em contacto com o manancial?

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O Galo Angustiado


Era uma vez um grande quintal onde reinava soberano e poderoso galo. Orgulhoso de sua função, nada acontecia no quintal sem que ele soubesse e participasse. Com sua força descomunal e coragem heróica, enfrentava qualquer perigo. Era especialmente orgulhoso de si mesmo, de suas armas poderosas, da beleza colorida de suas penas, de seu canto mavioso.

Toda manhã acordava pelo clarão do horizonte e bastava que cantasse duas ou três vezes para que o sol se elevasse acima para o céu. "O sol nasce pela força do meu canto", dizia ele. "Eu pertenço à linhagem dos levantadores do sol. Antes de mim era meu pai; antes de meu pai era meu avô!" ...

Um dia uma jovem galinha de beleza esplendorosa veio morar em seu reinado e por ela o galo se apaixonou. A paixão correspondida culminou numa noite de amor para galo nenhum botar defeito. E foi aquele amor louco, noite adentro. Depois do amor, já de madrugada, veio o sono. Amou profundamente e dormiu profundamente. 

As primeiras luzes do horizonte não o acordaram como de costume. Nem as segundas. ... Para lá do meio dia, abriu os olhos sonolentos para um dia azul, de céu azul brilhante e levou um susto de quase cair. Tentou inutilmente cantar, apenas para verificar que o canto não lhe passava pelo nó apertado da garganta. - "Então não sou eu quem levanta o sol?", comentou desolado para si mesmo. E caiu em profunda depressão. O reconhecimento de que nada havia mudado no galinheiro enquanto dormia trouxe-lhe um forte sentimento de inutilidade e um questionamento incontrolável de sua própria competência. E veio aquele aperto na garganta. A pressão no peito virou dor. A angústia se instalou definitivamente e fez com que ele pensasse que só a morte poderia solucionar tamanha miséria. "O que vão pensar de mim?", murmurou para si mesmo, e lembrou daquele galinho impertinente que por duas ou três vezes ousou de longe arrastar-lhe a asa. O medo lhe gelou nos ossos. Medo. Angústia. Andou se esgueirando pelos cantos do galinheiro, desolado e sem saída. 

Do fundo de seu sentimento de impotência, humilhado, pensou em pedir ajuda aos céus e rezou baixinho, chorando. Talvez tenha sido este momento de humildade, único em sua vida, que o tenha ajudado a se lembrar que, em uma árvore, lá no fundo do galinheiro, ficava o dia inteiro empoleirado um velho galo filósofo que pensava e repensava a vida do galinheiro e que costumava com seus sábios conselhos dar orientações úteis a quem o procurasse com seus problemas existenciais.

O velho sábio o olhou de cima de seu filosófico poleiro, quando ele vinha se esgueirando, tropeçando nos próprios pés, como que se escondendo de si mesmo. E disse: "Olá! Você nem precisa dizer nada, do jeito que você está. Aposto que você descobriu que não é você quem levanta o sol. Como foi que você se distraiu assim? Por acaso você andou se apaixonando?". Sua voz tinha um tom divertido, mas ao mesmo tempo compreensivo, como se tudo fosse natural para ele. A seu convite, o galo angustiado empoleirou-se a seu lado e contou-lhe a sua história. O filósofo ouviu cada detalhe com a paciência dos pensadores. Quando o consulente já se sentia compreendido, o velho sábio fez-lhe uma longa preleção:

"Antes, quando você ainda achava que até o sol se levantava pelo poder do seu canto, digamos que você estava enganado. Para definir seu problema com precisão, você tinha o que pode ser chamado de "Ilusão de Onipotência". Então, pela mágica do amor, você descobriu o seu próprio engano, e até aí estaria ótimo, porque nenhuma vantagem existe em estar tão iludido. Saiba você que ninguém acredita realmente nessa história de canto de galo levantar o sol. Para a maioria, isto é apenas simbólico: só os tolos tomam isto ao pé da letra. "Entretanto, agora", continuou o sábio pensador, "você está pensando que não tem mais nenhum valor, o que é de certa forma compreensível em quem baseou a vida em tão grande ilusão. Contudo, examinando a situação com maior profundidade, você está apenas trocando uma ilusão por outra ilusão. O que era uma 'Ilusão de Onipotência' pode ser agora chamado de 'Ilusão de Incompetência'. Aos meus olhos, continuou o sábio, nada realmente mudou. Você era, é e vai continuar sendo, um galo normal, cumpridor de sua função de gerenciar o galinheiro, de acordo com a tradição dos galináceos. Seu maior risco, continuou o pensador, é o de ficar alternando ilusões. Ontem era 'Ilusão de Onipotência', hoje, 'Ilusão de Incompetência'. Amanhã você poderá voltar à Ilusão de Onipotência novamente, e depois ter outra desilusão... Pense bem nisto: uma ilusão não pode ser solucionada por outra ilusão. A solução não está nem nas nuvens nem no fundo do poço. A solução está na realidade". Após um longo período de silêncio, o velho galo filósofo voltou-se para os seus pensamentos. Nosso herói desceu da árvore para a vida comum do galinheiro. 

Na dia seguinte, aos primeiros raios da manhã, cantou para anunciar o sol nascente. E tudo continuou como era antes.

 Maurício de Souza Lima 

Psicólogo - Diretor da Sociedade de Terapia Breve (BH) - Trainer em PNL pelo Southern Institute of NLP da Flórida (home page: www.ibrapnl.com.br 

domingo, 28 de setembro de 2008

POR QUE AS PESSOAS SOFREM?


— Vó, por que as pessoas sofrem

— Como é, minha neta?

— Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?

— Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.

—Vó...

—Oi...

— Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.

— É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor?

—Não, Vovó.

— Você lembra da estorinha do Patinho Feio?

— Lembro.

— Então... o Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.

— O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?

— Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.

— É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?

— É por isso! Viu como você é esperta?

— Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?

— Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar?

—O que?

— Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.

— Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?

— Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.

— É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?

— Não entendi, minha filha?

— Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro...

— Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?

— Todos nós somos, querida. Em parte.

— Ele vai descobrir quem ele é de verdade?

— Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda até encontrarmos.

— E aí viramos cisnes?

— Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.

— Aonde você vai?

— Vou contar para o papai o cisne bonito que ele é!

A boa vovó apenas sorriu!

sábado, 27 de setembro de 2008

O Pequeno Principe e a Raposa



XXI

E foi então que apareceu a raposa:

- Bom dia, disse a raposa.

- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa, disse a raposa.

- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.

- Ah! desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?

- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."

- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...

- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.

A raposa pareceu intrigada:

- Num outro planeta?

- Sim.

- Há caçadores nesse planeta?

- Não.

- Que bom! E galinhas?

- Também não.

- Nada é perfeito, suspirou a raposa.

Mas a raposa voltou à sua idéia.

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.

O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... cativa-me! disse ela.

- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o principezinho.

- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas:

- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.

E as rosas estavam desapontadas.

- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.


Antoine de Saint-Exupéry, O PEQUENO PRINCIPE




O LENHADOR E A RAPOSA

  Um lenhador acordava todos os dias às 6 horas da manhã e trabalhava o dia inteiro cortando lenha, só parando tarde da noite. Ele tinha um filho lindo de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bichano de estimação e de sua total confiança. Todos os dias, o lenhador — que era viúvo — ia trabalhar e deixava a raposa cuidando do bebê. Ao anoitecer, a raposa ficava feliz com a sua chegada.

     Sistematicamente, os vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um animal selvagem, e, portanto, não era confiável. Quando sentisse fome comeria a criança. O lenhador dizia que isso era uma grande bobagem, pois a raposa era sua amiga e jamais faria isso. Os vizinhos insistiam: Lenhador, abra os olhos! A raposa vai comer seu filho. Quando ela sentir fome vai devorar seu filho.

     Um dia, o lenhador, exausto do trabalho e cansado desses comentários, chegou à casa e viu a raposa sorrindo como sempre, com a boca totalmente ensangüentada. O lenhador suou frio e, sem pensar duas vezes, deu uma machadada na cabeça da raposa. A raposinha morreu instantaneamente.   

  Desesperado, entrou correndo no quarto. Encontrou seu filho no berço, dormindo tranqüilamente, e, ao lado do berço, uma enorme cobra morta.


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

PARÁBOLA: O MONGE MORDIDO


     Um monge e seus discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora do rio o escorpião o picou. Devido à dor, o monje deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem, pegou um ramo de árvore, voltou outra vez a correr pela margem, entrou no rio, resgatou o escorpião e o salvou. Em seguida, juntou-se aos seus discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.

     — Mestre, o Senhor deve estar muito doente! Por que foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda: picou a mão que o salvava! Não merecia sua compaixão!

     O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu: Ele agiu conforme sua natureza e eu de acordo com a minha.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A luta contra o terrorismo e o esforço pela paz



Importante documento para reflexão! Rezemos pela Paz!

Mensagem do Papa João Paulo II na comemoração do dia mundial pela paz  de 1º de Janeiro de 2002. No final oração pela paz e contra o terrorismo. Vale a pena!


MENSAGEM
DE SUA SANTIDADE
JOÃO PAULO II 
PARA A CELEBRAÇÃO DO
DIA MUNDIAL DA PAZ

1° DE JANEIRO DE 2002

 

NÃO HÁ PAZ SEM JUSTIÇA
NÃO HÁ JUSTIÇA SEM PERDÃO 

 

1. Este ano o Dia Mundial da Paz é celebrado tendo como pano de fundo os dramáticos acontecimentos do passado dia 11 de Setembro. Naquele dia, foi perpetrado um crime de terrível gravidade: em poucos minutos milhares de pessoas inocentes, de várias procedências étnicas, foram horrorosamente massacradas. Desde então, por todo o mundo as pessoas tomaram consciência, com nova intensidade, da sua vulnerabilidade pessoal e começaram a olhar o futuro com um sentido, jamais pressentido, de íntimo medo. Diante deste estado de ânimo, a Igreja deseja dar testemunho da sua esperança, baseada na convicção de que o mal, o mysterium iniquitatis, não tem a última palavra nas vicissitudes humanas. A história da salvação, delineada na Sagrada Escritura, projecta uma grande luz sobre toda a história do mundo ao mostrar como sobre ela vela sempre a solicitude misericordiosa e providente de Deus, que conhece os caminhos para sensibilizar mesmo os corações mais endurecidos e alcançar bons frutos mesmo de uma terra árida e infecunda. Esta é a esperança que anima a Igreja no início do ano 2002: com a graça de Deus este mundo, no qual as forças do mal parecem uma vez mais triunfar, há-de realmente transformar-se num mundo em que as aspirações mais nobres do coração humano poderão ser satisfeitas, num mundo onde prevalecerá a verdadeira paz.

 

A paz: obra de justiça e amor 

2. Os recentes acontecimentos, com os terríveis factos sangrentos aqui lembrados, estimularam-me retomar uma reflexão que frequentemente brota do mais íntimo do meu coração, quando lembro os acontecimentos históricos que marcaram minha vida, especialmente nos anos da minha juventude. 

Os indescritíveis sofrimentos de povos e indivíduos, vários deles meus amigos e conhecidos, causados pelos totalitarismos nazista e comunista, sempre interpelaram o meu espírito e motivaram a minha oração. Muitas vezes me detive a reflectir nesta questão: qual é o caminho que leva ao pleno restabelecimento da ordem moral e social tão barbaramente violada? A convicção a que cheguei, raciocinando e confrontando com a Revelação bíblica, é que não se restabelece cabalmente a ordem violada, senão conjugando mutuamente justiça e perdão. As colunas da verdadeira paz são a justiça e aquela forma particular de amor que é o perdão.

3. Mas, nas circunstâncias actuais, pode-se falar de justiça e, ao mesmo tempo, de perdão como fontes e condições da paz? A minha resposta é que se pode e se deve falar, apesar da dificuldade que o assunto traz consigo, e da tendência que há a conceber a justiça e o perdão em termos alternativos. Mas o perdão opõe-se ao rancor e à vingança, não à justiça. Na realidade, a verdadeira paz é « obra da justiça » (Is 32, 17). Como afirmou o Concílio Vaticano II, a paz é « fruto da ordem que o divino Criador estabeleceu para a sociedade humana, e que deve ser realizada pelos homens, sempre anelantes por uma mais perfeita justiça » (Const. past. Gaudium et spes, 78).

Há mais de quinze séculos que na Igreja Católica ressoa o ensinamento de Agostinho de Hipona, segundo o qual a paz, a ser conseguida com a colaboração de todos, consiste na tranquillitas ordinis, na tranquilidade da ordem (cf. De civitate Dei, 19, 13). 

Por isso, a verdadeira paz é fruto da justiça, virtude moral e garantia legal que vela sobre o pleno respeito de direitos e deveres e a equitativa distribuição de benefícios e encargos. Mas, como a justiça humana é sempre frágil e imperfeita, porque exposta como tal às limitações e aos egoísmos pessoais e de grupo, ela deve ser exercida e de certa maneira completada com o perdão que cura as feridas e restabelece em profundidade as relações humanas transtornadas. Isto vale tanto para as tensões entre os indivíduos, como para as que se verificam em âmbito mais alargado e mesmo as internacionais. O perdão não se opõe de modo algum à justiça, porque não consiste em diferir as legítimas exigências de reparação da ordem violada; mas visa sobretudo aquela plenitude de justiça que gera a tranquilidade da ordem, a qual é bem mais do que uma frágil e provisória cessação das hostilidades, porque consiste na cura em profundidade das feridas que sangram nos corações. Para tal cura, ambas, justiça e perdão, são essenciais. 

Estas são as duas dimensões da paz que desejo analisar nesta mensagem. O seu Dia Mundial oferece este ano, a toda a humanidade e de modo particular aos Chefes das Nações, a oportunidade de reflectir sobre as exigências da justiça e sobre o apelo ao perdão diante dos graves problemas que continuam a afligir o mundo, dos quais, não por último, o novo nível de violência introduzido pelo terrorismo organizado. 

 

O fenómeno do terrorismo 

4. É precisamente a paz baseada na justiça e no perdão que, hoje, é atacada pelo terrorismo internacional. Nestes últimos anos, especialmente após o fim da guerra fria, o terrorismo transformou-se numa rede sofisticada de conluios políticos, técnicos e económicos, que ultrapassa as fronteiras nacionais e se estende até abranger o mundo inteiro. Trata-se de verdadeiras organizações, dotadas frequentemente de enormes recursos financeiros, que elaboram estratégias em vasta escala, atingindo pessoas inocentes, de forma alguma envolvidas nos objectivos que se propõem os terroristas. 

Usando os seus mesmos sequazes como armas para atingir pessoas incautas e indefesas, estas organizações terroristas manifestam de modo assustador o instinto de morte que as alimenta. O terrorismo nasce do ódio e gera isolamento, desconfiança e retraimento. A violência atrai violência, numa trágica espiral que arrasta também as novas gerações, herdando elas assim o ódio causador das divisões precedentes. O terrorismo baseia-se no desprezo da vida do homem. Precisamente por isso, dá origem não só a crimes intoleráveis, mas constitui em si, enquanto recorre ao terror como estratégia política e económica, um verdadeiro crime contra a humanidade.

5. Existe, portanto, um direito a defender-se do terrorismo. É um direito que deve, como qualquer outro, obedecer a regras morais e jurídicas na escolha quer dos objectivos quer dos meios.

A identificação dos culpados deve ser devidamente provada, porque a responsabilidade penal é sempre pessoal, não podendo por isso ser estendida às nações, às etnias, às religiões a que pertencem os terroristas. A colaboração internacional na luta contra a actividade terrorista exige também um empenho particular do ponto de vista político, diplomático e económico para resolver, com coragem e determinação, eventuais situações de opressão e marginalização que estejam na origem dos objectivos terroristas. O recrutamento dos terroristas, de facto, é mais fácil em contextos sociais onde os direitos são espezinhados e as injustiças longamente toleradas. 

No entanto, deve-se afirmar claramente que as injustiças existentes no mundo jamais podem ser invocadas como desculpa para justificar os atentados terroristas. Além disso, deve-se assinalar que, entre as vítimas da derrocada radical da ordem intentada pelos terroristas, incluem-se em primeiro lugar os milhões de homens e mulheres menos preparados para resistir ao colapso da solidariedade internacional. Refiro-me especificamente aos povos em vias de desenvolvimento, que já vivem no limite ínfimo da sobrevivência e que seriam os mais dolorosamente atingidos pelo caos político e económico global. A falsidade da pretensão que se arroga o terrorismo de agir em nome dos pobres é patente.

 

Não se mata em nome de Deus! 

6. Quem mata, com actos terroristas, cultiva sentimentos de desprezo pela humanidade, manifestando desespero pela vida e pelo futuro: nesta perspectiva, tudo pode ser odiado e destruído.

O terrorista considera a verdade em que crê ou o sofrimento que padece tão absolutos que legitimam a sua reacção de destruir inclusivamente vidas humanas inocentes. Por vezes, o terrorismo é filho de um fundamentalismo fanático, que nasce da convicção de poder impôr a todos a aceitação da sua própria visão da verdade. Mas a verdade, uma vez alcançada — e isto verifica-se sempre de forma limitada e imperfeita — jamais pode ser imposta. O respeito pela consciência alheia, na qual se reflecte a mesma imagem de Deus (cf. Gn 1, 26-27), permite apenas propôr a verdade ao outro, a quem compete depois acolhê-la responsavelmente. Pretender impôr aos outros com violência aquela que se presume ser a verdade, significa violar a dignidade do ser humano e, em última instância, ultrajar a Deus, de quem aquele ele é imagem. Por isso, o fanatismo fundamentalista é um comportamento radicalmente contrário à fé em Deus. Visto de outro modo, o terrorismo instrumentaliza não somente o homem, mas também Deus, acabando por fazer d'Ele um ídolo de que se serve para os seus próprios fins.

7. Por isso, nenhum responsável das religiões pode ser indulgente para com o terrorismo e, muito menos, pregá-lo. É profanação da religião proclamar-se terrorista em nome de Deus, cometer violência ao homem em nome de Deus. A violência terrorista é contrária à fé em Deus Criador do homem, em Deus que cuida e ama o homem. E de modo particular, ela é totalmente contrária à fé em Cristo Senhor, que ensinou os seus discípulos a rezar: « Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido » (Mt 6, 12). Seguindo a doutrina e o exemplo de Jesus, os cristãos estão convencidos de que usar de misericórdia significa viver plenamente a verdade da nossa vida: podemos e devemos ser misericordiosos, porque usou de misericórdia para connosco um Deus que é Amor misericordioso (cf. 1 Jo 4, 7-12). Aquele que nos redime mediante o seu ingresso na história e, através do drama da Sexta-feira Santa, prepara a vitória do dia de Páscoa, é um Deus de misericórdia e de perdão (cf. Sal 103(102), 3-4.10-13).

Aos que O criticavam por comer com os pecadores, Jesus assim se exprimiu: « Ide aprender o que significa: prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque não vim chamar os justos, mas os pecadores » (Mt 9, 13). Os seguidores de Cristo, baptizados na sua morte e ressurreição, devem ser sempre homens e mulheres de misericórdia e de perdão.

 

A necessidade do perdão 

8. Mas o que significa concretamente perdoar? E perdoar porquê? Uma dissertação sobre o perdão não pode ignorar estas questões. Retomando uma reflexão que já tive ocasião de oferecer no Dia Mundial da Paz de 1997 (« Oferece o perdão, recebe a paz »), desejo recordar que o perdão, antes de ser um facto social, tem a sua sede no coração de cada um. Somente na medida em que se afirmam uma ética e uma cultura do perdão, é que se pode esperar numa « política do perdão », expressa em comportamentos sociais e instrumentos jurídicos, nos quais a mesma justiça assuma um rosto mais humano. 

Na verdade, o perdão é primariamente uma decisão pessoal, uma opção do coração que vai de encontro ao instinto espontâneo de devolver o mal com o mal. Tal opção tem o seu termo de comparação no amor de Deus, que nos acolhe apesar do nosso pecado, e o seu modelo supremo no perdão de Cristo que do alto da cruz rezou: « Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem » (Lc 23, 34). 

O perdão tem pois uma raiz e uma medida divinas. Isto, porém, não exclui que se possa acolher o seu valor também à luz de considerações humanas razoáveis. A primeira delas deriva da experiência que o ser humano vive em si próprio quando comete o mal: ele apercebe-se então da sua fragilidade e deseja que os outros sejam indulgentes para com ele. Deste modo porque não fazer aos outros aquilo que cada um espera que seja feito a si próprio? Cada ser humano abriga dentro de si a esperança de poder retomar o percurso da vida sem ficar para sempre prisioneiro dos próprios erros e culpas. Sonha poder levantar de novo o olhar para o futuro, para descobrir ainda perspectivas de confiança e empenho.

9. Como acto humano, o perdão é antes de mais uma iniciativa individual do sujeito na sua relação com os seus semelhantes. Porém, a pessoa tem uma dimensão social essencial, que lhe permite estabelcer uma rede de relações com a qual se exprime a si mesma: infelizmente não só para o bem, mas também para o mal. Consequentemente, o perdão torna-se necessário também a nível social. As famílias, os grupos, os Estados, a mesma Comunidade internacional, necessitam de abrir-se ao perdão para restaurar os laços interrompidos, superar situações estéreis de mútua condenação, vencer a tentação de excluir os outros, negando-lhes a possibilidade de apelo. A capacidade de perdão está na base de cada projecto de uma sociedade futura mais justa e solidária. 

 Pelo contrário, a falta de perdão, especialmente quando alimenta o prolongamento de conflitos, supõe custos enormes para o desenvolvimento dos povos. Os recursos são destinados para manter a corrida aos armamentos, as despesas de guerra, as consequências das represálias económicas. Acabam assim por faltar os recursos financeiros necessários para gerar desenvolvimento, paz e justiça. Quantos sofrimentos padece a humanidade por não saber reconciliar-se, e quantos atrasos por não saber perdoar! A paz é a condição do desenvolvimento, mas uma verdadeira paz torna-se possível somente com o perdão.

 

O perdão, estrada mestra 

10. A proposta do perdão não é de imediata compreensão nem de fácil aceitação; é uma mensagem de certo modo paradoxal. De facto, o perdão implica sempre uma aparente perda a curto prazo, mas garante, a longo prazo, um lucro real. Com a violência é exatamente o contrário: opta-se por um lucro de vencimento imediato, mas prepara para depois uma perda real e permanente. À primeira vista, o perdão poderia parecer uma fraqueza, mas não: tanto para ser concedido quanto para ser aceito, supõe uma força espiritual e uma coragem moral a toda a prova. Em vez de humilhar a pessoa, o perdão leva-a a um humanismo mais pleno e mais rico, capaz de reflectir em si um raio do esplendor do Criador. 

O ministério que realizo ao serviço do Evangelho faz-me sentir vivamente o dever, e dá-me por sua vez a força, de insistir sobre a necessidade do perdão. É o que faço hoje, animado pela esperança de poder suscitar reflexões serenas e maduras que levem a uma renovação geral no corações das pessoas e nas relações entre os povos da terra.  

11. Ao meditar sobre o tema do perdão, não é possível deixar de recordar algumas trágicas situações de conflito, que há demasiado tempo alimentam ódios profundos e dilacerantes, com a consequente espiral de tragédias pessoais e colectivas sem fim. Refiro-me, particularmente, àquilo que sucede na Terra Santa, lugar bendito e sagrado do encontro de Deus com os homens, lugar da vida, morte e ressurreição de Jesus, o Príncipe da paz. 

A delicada situação internacional põe em destaque, com vigor renovado, a urgência da solução do conflito árabe-israelita, que perdura há mais de cinquenta anos, oscilando em fases mais ou menos agudas. O contínuo recurso a actos de terrorismo ou de guerra, que agravam a situação de todos e ensombram as perspectivas, deve dar finalmente lugar a uma negociação definitiva. Os direitos e as exigências de cada um poderão ser levados em devida consideração e contemplados equitativamente, se e quando prevalecer em todos a vontade de justiça e de reconciliação. Dirijo novamente àqueles amados povos o veemente convite a que se empenhem por uma nova era de mútuo respeito e colaboração construtiva.  

 

Compreensão e cooperação inter-religiosa 

12. Neste grande esforço, os líderes religiosos têm uma sua responsabilidade específica. As confissões cristãs e as grandes religiões da humanidade devem colaborar entre si para eliminar as causas sociais e culturais do terrorismo, ensinando a grandeza e a dignidade da pessoa e incentivando uma maior consciência da unidade do género humano. Trata-se de um campo concreto do diálogo e da colaboração ecuménica e inter-religiosa, colocando as religiões ao serviço da paz entre os povos. 

De modo particular, estou convencido de que os líderes religiosos judeus, cristãos e muçulmanos devem tomar a iniciativa da pública condenação do terrorismo, recusando toda a forma de legitimação religiosa ou moral a quem dele participa.  

13. Testemunhando unanimemente a verdade moral de que o assassínio deliberado do inocente é sempre um pecado grave, em toda a parte e sem excepções, os líderes religiosos do mundo favorecerão a formação de uma opinião pública moralmente correcta. Este é o pressuposto necessário para a edificação de uma sociedade internacional capaz de procurar a tranquilidade da ordem na justiça e na liberdade. 

Um compromisso nesta linha por parte das religiões não deixará de conduzir à estrada do perdão, que leva à recíproca compreensão, ao respeito e à confiança. O serviço que as religiões podem prestar em prol da paz e contra o terrorismo consiste precisamente na pedagogia do perdão, porque o homem que perdoa ou pede perdão entende que existe uma Verdade maior do que ele e, acolhendo-a, consegue ele mesmo transcender-se a si próprio.  

 

Oração pela paz 

14. Precisamente por este motivo, a oração pela paz não é um elemento que « vem depois » do empenho pela paz. Pelo contrário, está no âmago do esforço para a edificação de uma paz na ordem, na justiça e na liberdade. Orar pela paz significa abrir o coração humano à irrupção da força renovadora de Deus. Com a força vivificadora da sua graça, Ele pode criar oportunidades para a paz mesmo onde pareça que existam somente obstáculos e retraimento; pode reforçar e ampliar a solidariedade da família humana, apesar de velhas histórias de divisões e lutas. Orar pela paz significa rezar pela justiça, por um recto ordenamento no âmbito das Nações e nas relações entre elas. Quer dizer também rezar pela liberdade, especialmente pela liberdade religiosa, que é um direito humano e civil fundamental de cada indivíduo. Orar pela paz significa rezar para alcançar o perdão de Deus e, ao mesmo tempo, crescer na coragem de que necessita quem, por sua vez, quer perdoar as ofensas sofridas. 

Por todos estes motivos, convidei os representantes das religiões do mundo para virem a Assis, a cidade de São Francisco, no próximo dia 24 de Janeiro, rezar pela paz. Deste modo, queremos mostrar que o genuíno sentimento religioso é uma fonte inesgotável de mútuo respeito e de harmonia entre os povos: antes, nele reside o principal antídoto contra a violência e os conflitos. Neste tempo de grave preocupação, a família humana necessita que lhe sejam recordadas as razões seguras da nossa esperança. É isto mesmo que queremos proclamar em Assis, pedindo a Deus Omnipotente— conforme a sugestiva expressão atribuída ao mesmo São Francisco — que faça de nós um instrumento da sua paz.  

15. Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão: eis o que quero anunciar nesta Mensagem a crentes e não crentes, aos homens e mulheres de boa vontade, que têm a peito o bem da família humana e o seu futuro. 

Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão: é o que quero lembrar aos que detêm as sortes das comunidades humanas, para que nas suas graves e difíceis decisões, se deixem sempre guiar pela luz do verdadeiro bem do homem, na perspectiva do bem comum. 

Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão: não me cansarei de repetir esta advertência a todos os que, por uma razão ou por outra, cultivam dentro de si ódio, desejo de vingança, propósitos de destruição. 

Neste Dia da Paz, suba mais intensa no coração de todo o crente a prece por cada uma das vítimas do terrorismo, pelas suas famílias atingidas tragicamente, e por todos os povos que o terrorismo e a guerra continuam a ferir e a transtornar. Nem sejam excluídos do raio de luz da nossa oração aqueles que ofendem gravemente Deus e o homem, através destes actos desumanos: seja-lhes concedido entrar em si próprios e tomar consciência do mal que fazem, abandonando qualquer propósito de violência e procurando o perdão. Possa a família humana, nestes tempos tormentosos, encontrar paz verdadeira e duradoura, aquela paz que só pode nascer do encontro da justiça com a misericórdia!   

Vaticano, 8 de Dezembro de 2001 

JOÃO PAULO II 

Fonte: VATICANO



Oração pela paz e pelo fim do terrorismo
Cardeal arcebispo de Madrid, D. Antonio Maria Rouco

(tradução adaptada)

 

"Pelo(a) (diz-se aqui o nome do país, da  região ou pelo mundo),
para que cesse e desapareça o terrorismo e toda semente de violência,
que os terroristas e os seus financiadores se convertam,
 que os ameaçados encontrem ajuda cristã,
que as vítimas falecidas consigam o descanso eterno,
os sobreviventes e seus familiares o consolo e o amor fraterno,
e todos a paz de Deus.
Roguemos ao Senhor"


Original em espanhol:


Oración por la paz, por el fin del terrorismo
Cardenal arzobispo de Madrid, D. Antonio María Rouco

"Por (España, Colombia u otro país, región o por el mundo),
para que cese y desaparezca el terrorismo y todo germen de violencia,
los terroristas y sus inductores se conviertan,
los amenazados encuentren ayuda cristiana,
las víctimas alcancen el descanso eterno,
sus familiares el consuelo y el amor fraterno,
y todos la paz de Dios.
Roguemos al Señor"

Fonte: CORAZONES


ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO MEDITADA

Senhor,

Ó Deus, sois o único Senhor de nossa vida, de nosso coração e de nosso destino. Libertai-nos dos falsos senhores que nos iludem com suas promessas, pois não trazem nem vida nem paz. Dai-nos força para resistir e para buscar a paz através da justiça e do serviço humilde a todos. Amém

Fazei-me um instrumento de vossa paz

Senhor, fazei-nos instrumento de vossa paz na medida em que procurarmos viver em paz com nós mesmos, com a comunidade mais próxima, com a sociedade desigual e no meio dos priores conflitos. Que possamos nos esforçar para suportar tensões e contradições, buscando manter comunhão com todas as criaturas e tornando visível a vossa paz. Amém

Onde houver ódio, que eu leve o amor

Senhor, onde houver ódio, que eu leve o amor. Fazei que desentranhemos de nós o amor escondido sob as cinzas de ódios secretos. Que nosso amor aos outros suscite o amor escondido neles, capaz de transformar o ódio. Fazei que o amor incendeie nossos corações, irradie em nossas atitudes e se realize em nossas ações, para que o ódio não tenha mais lugar dentro de nós. Amém.

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão

Senhor, onde houver ofensa, que eu leve o perdão. No dia em que fizerdes o balanço de nossa história, perdoai os que ofenderam e humilharam nossos irmãos e irmãs, pois eles também são vossos filhos e filhas. Mas dai-nos força para nunca fazermos o que eles fizeram. Antes tornai-nos seres de solidariedade, de compaixão e de amor ilimitado. Amém

Onde houver discórdia, que eu leve união

Onde há discórdia, que eu leve a união. Dai-nos sede de justiça, de compreensão e de tolerância para convivermos jovialmente uns com os outros. Dai-nos um coração que sinta o pulsar do coração do universo e de cada criatura, sintonizando com o vosso coração divino que tudo une, tudo diversifica e tudo faz convergir. Amém

Onde houver dúvida, que eu leve a fé

Senhor, onde houver dúvida, que eu leve a fé. Não deixeis que a dúvida apague as estrelas-guias que iluminam nossa caminhada. Dai-nos a fé-confiança que nos coloca em vossas mãos. Concedei-nos a fé-crença em vosso desígnio que nos quer reunidos em vosso reino junto com toda a criação. Amém

Onde houver erro, que eu leve a verdade

Senhor, onde houver erro, que eu leve a verdade. Fazei-nos corajosos na descoberta de nossos erros, especialmente daqueles que encobrem vossa presença em todas as coisas. Que a verdade brilhe por nossas palavras sinceras, por nossos gestos humanizadores, por nossas intenções puras e por nossa busca permanente de fidelidade à verdade. Nunca permitais que oprimamos os outros em nome da verdade religiosa. Amém

Onde houver desespero, que eu leve esperança

Senhor, onde houver desespero, que eu leve a esperança. Que eu seja solidário na luta dos que buscam a justiça. Que saiba criar uma atmosfera de confiança ilimitada no vosso misterioso projeto de amor. Que tenha palavras inspiradas para suscitar a esperança inarredável de vivermos para sempre em vossa casa com todos os que precederam na história. Amém

Onde houver tristeza, que eu leve alegria

Senhor, onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Fazei que a minha alegria nasça da compaixão sincera pelos que sofrem, da solidariedade verdadeira com os injustiçados e de minha própria conversão à fraternidade universal. Amém

Onde houver trevas, que eu leve a luz

Senhor, onde houver trevas, que eu leve a luz. Vós sois a luz verdadeira que ilumina cada pessoa que vem a este mundo. Fazei que eu possa, por palavras inspiradas, por gestos consoladores e por um coração caloroso, dissipar as trevas humanas para que vossa luz nos mostre o caminho e trazer alegria à vida. Amém

Ó Mestre,

Ó Mestre, fazei que em nosso interior ressoe vossa sabedoria e o exemplo de vossa coerência até a morte. Que sejamos vossos discípulos fiéis na medida em que realizarmos o que nos ensinais para sermos verdadeiramente instrumentos de amor e de paz. Amém

Fazei que eu procure mais consolar, do que ser consolado

Ó Mestre, que eu possa sair da minha própria dor para escutar o grito de quem sofre ao meu lado. Que tenha palavras que consolem e gestos que criem serenidade, entrega confiante e paz profunda. Amém

Fazei que eu procure mais compreender, do que ser compreendido

Fazei que consiga acolher o outro assim como é. Só assim o compreenderei como quero ser compreendido. Concedei-me ver o menor sinal de verdade, de bondade e de amor no outro para reforçá-lo e permitir que venha à plena luz. Amém

Fazei que eu procure mais amar, que ser amado

Ó Mestre, que eu acolha com generosidade e alegria o amor que me é dado, mas que me empenhe sobretudo em fazer com que os que me cercam se sintam amados. Fazei que nos sintamos amados por Vós para experimentarmos a suprema felicidade concedida nesta vida. Amém

Pois é dando que se recebe,

Ó Mestre, fazei-nos entender que dando generosa e gratuitamente receberemos também com superabundância tudo o que precisamos. Que possamos orientar nossa vida pela generosidade que nos devolverá sempre mais compreensão, mais acolhida e mais amor. Amém

É perdoando que se é perdoado

Ó mestre, muitas vezes e de muitos modos nos perdoastes ilimitadamente, como uma Mãe amorosa perdoa um filho. Fazei que perdoemos também nós a quem nos tem ofendido. E que nunca deixemos de crer na generosidade do coração, capaz de perdoar mesmo quando injustamente ferido por muitas ofensas. Amém

E é morrendo que se vive para a vida eterna.

Ó mestre, ensinai-nos a viver de tal forma que acolhamos a morte como amiga e irmã. Ela não nos tira a vida, mas nos conduz à fonte de toda vida. Que possamos perceber na vida terrena o começo da vida celestial e eterna. Amém...

Fonte: PORTAL ANGELS